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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Biólogo recorda emoção de descobrir anfíbio de três dedos

 

Em uma caminhada pela reserva de uma floresta tropical atlântica no sul do Brasil, o biólogo Michel Garey lembra a sorte que teve no dia de seu aniversário em 2007, quando encontrou o que resultou ser uma nova espécie de anfíbio de três dedos. "Estava fazendo uma pesquisa com dois amigos no topo de uma colina da reserva quando encontramos esta rã de apenas três dedos", contou Garey nesta semana em um giro por Salto Morato, uma reserva natural no Estado do Paraná (sul do Brasil).

"Aconteceu no dia 14 de fevereiro de 2007: meu aniversário. Que presente!", lembrou. Mas foi apenas em junho deste ano que a descoberta desta nova espécie - batizada de Brachycephalus tridactylos - foi oficialmente estabelecida e publicada na Herpetológica, uma revista trimestral internacional sobre o estudo e a conservação de anfíbios e répteis.

"Desde o início de 2011 levei 18 meses para coletar sete destas novas rãs, ir a museus e compará-las com outras espécies, perceber que eram novas, escrever meu artigo e esperar que fosse publicado na revista", disse Garey. A pequena Brachycephalus tridactylus foi encontrada a uma altura de 900 metros acima do nível do mar. Sua característica mais especial é a ausência de um quarto dedo, que Garey atribui a um processo evolutivo mais do que a efeitos ambientais.

É quase em sua totalidade laranja e mede menos de 1,5 cm de comprimento, também tem pequenas manchas e pintas regulares nas cores verde e cinza em várias partes de seu corpo. Garey disse que o macho faz cerca de 30 chamados para tentar se reproduzir por dia. Por enquanto não pode estimar quantas destas rãs existem na reserva, mas planeja fazê-lo em uma futura pesquisa.

A nova rã é parte das 43 espécies de anfíbios encontrados nesta reserva de 2.253 hectares em Guaraquecaba, a cidade mais a leste do Paraná. Os especialistas consideram que há 950 espécies de anfíbios no Brasil e mais de 6.700 no mundo.

Os anfíbios - animais de sangue frio como rãs, sapos e salamandras - estão cada vez mais ameaçados pelas mudanças climáticas, pela poluição e pela emergência de uma doença fúngica infecciosa, que foi vinculada às mudanças climáticas, advertem. Um terço das quase 6,7 mil espécies conhecidas estão classificadas como ameaçadas de extinção, segundo a Avaliação Mundial de Anfíbios, um extenso estudo destas espécies no mundo. E acredita-se que mais de 120 delas tenham sido extintas desde 1980.

A complexa vida das rãs
"Compreender o complexo ciclo de vida das rãs - passam parte de sua vida na água e parte na terra - é crucial porque pode servir como 'bioindicador de qualidade ambiental'", disse Garey. "Têm a pele permeável, o que as torna mais suscetíveis à radiação ultravioleta, e sua temperatura corporal muda com o meio ambiente", explicou.

"Como larvas na água, se alimentam de vários organismos como algas, e como adultos comem insetos. As larvas também são comidas por peixes enquanto os adultos são comidos por cobras e mamíferos", acrescentou. "Têm um efeito cascata na cadeia alimentar". Garey pode reconhecer as diferentes espécies apenas ao ouvir os diferentes chamados à procriação do macho.

O interesse de Garey pela biologia começou quando tinha 10 anos. Atualmente termina seu doutorado na Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), em São José do Rio Preto. Sua pesquisa é financiada pela Fundação Boticário, uma ONG que patrocinou 800 projetos de conservação, incluindo programas de pesquisa e educação ambiental em todo o país.

Salto Morato, criada em 1994, protege uma parte significativa da decrescente floresta tropical atlântica do Brasil. Em novembro de 1999, a reserva foi declarada monumento natural por parte da Unesco.

http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/0,,OI6268834-EI8145,00-Biologo+recorda+emocao+de+descobrir+anfibio+de+tres+dedos.html

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